16 de janeiro de 2007

Viver Intensamente


Por: Carlos Galvão
Foto: George Marks

Não raro uma pessoa me cutuca chamando minha atenção
para algo que elas pensam ser fabuloso: elas vivem intensamente. Geralmente eu paro de ler meu livro (sou um daqueles chatos que ficam lendo livros) e abro um simpático sorriso para elas; às vezes, até dou uns tapinhas em suas costas caso o entusiasmo delas seja muito grande e respondo: “Tá bom, agora vai brincar lá fora, vai” . Sim, sim, sou um sujeito muito gentil.

Porém minha gentileza acaba quando algumas dessas pessoas puxam o livro de minha mão e gritam no meu ouvido: “Você precisa viver! Você precisa viver!” Confesso que isso me choca profundamente. Fico por horas pensando: “Será que eu não estou vivo?”. O que será que é viver intensamente? O que é viver intensamente para você, caro leitor? É pular de Bungee Jumping? É jogar uma peladinha com os amigos? Dançar? Sair à noite para beber com a galera? Imagino que a lista deve ser grande e bem pessoal. Bom, se a lista é bem pessoal, seria descortês querer que as outras pessoas vivam intensamente fazendo o que você gosta, não seria? Tenho a impressão que essas pessoas não podem tomar uma limonada que logo vem nos cutucar para falar que a bebida delas estão mais geladinhas, mais docinhas, etc, etc. Por favor, parem de me cutucar.

O que complica ainda mais é se você é um cristão sério. Geralmente, as pessoas olham para você com uma carinha de pena e pensam (às vezes, até dizem): “Coitado, que vidinha miserável esse aí deve viver”. Acordar cedo no domingo para ir à Igreja? Ir para um retiro espiritual no carnaval? Ler a Bíblia? Fazer parte do coral da Igreja? Não se embriagar? Etc, etc. Você pirou? Isso aí não é viver intensamente cada minutinho! Mas, viver intensamente não seria fazer o que gosta, o que realmente o deixa feliz? Se é isso, para a decepção de alguns, confesso ser muito feliz sendo cristão e lendo meus livros.

Tem mais uma coisa que eu gostaria de dizer: não existe esse negócio de viver intensamente! Ninguém olha para um defunto e diz:”Nossa, aquele ali está morto intensamente”. Ou você está vivo ou morto, não há graus nisso. Agora, se você traduz viver intensamente como eu disse: fazer o que realmente gosta. Então pare de me cutucar e puxar meu livro.
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