6 de setembro de 2007


Foto: autor desconhecido
Por: Carlos Galvão

Muitas pessoas têm horror à palavra fé. “Será por quê?”, pergunta meu coração espantado, porém cheio de boa vontade. Por que muitas pessoas arrancam os cabelos e têm tiques nervosos de indignação quando alguém fala que acredita em algo pela fé?

Ah, elas riem como hienas tristes de nós, humildes pobres coitados que acreditam em Deus. Oh, que coisa, acreditar em Deus em pleno século XXI! O homem já foi à Lua, no fundo do mar, nos pólos gelados e, de quebra, passou numa loja de conveniência e comprou um lanchinho. E você ainda tem fé em Deus? Sim, entendo, há pessoas que não acreditam ser possível Deus e o controle remoto existirem ao mesmo tempo. “Ou um ou outro”, dizem com suas mentes confusas.

Mas o que é ter fé? Acreditar no que não é possível provar? E você sai por aí provando todas as coisas e fenômenos que acontecem? Não há nada que você acredite só por que alguém (um cientista de oclinhos talvez) falou que era daquele jeito? Isso também não seria fé?

Bom, tenho que confessar que sou um daqueles otários que acreditam em tudo que está escrito na Bíblia. “Ai, credo você acredita naquelas histórias?”, pergunta um sujeito com arzinho de superioridade intelectual. Sim, acredito. Em tudo, em absolutamente tudo.

E, sinceramente, prefiro acreditar que Noé fez uma arca gigante e colocou um par de cada animal lá dentro com a bênção de Deus a acreditar que os seres humanos com as suas ciências e suas espinhas na cara têm o perfeito entendimento e/ou as soluções (ou que um dia terá)
pra nossas mazelas, como: vaidade, inveja, desonestidade, corrupção, etc, etc. Porque o mundo muda, mas o homem permanece o mesmo imbecil de sempre. E é justamente esse o principal problema.

Há algum tempo atrás, um amigo foi chamado por uma mocinha de “Burro de viseira” por acreditar em Deus e na Bíblia. Oh, que horror, que horror! Burro... e ainda por cima de viseira, quer dizer, mais burro ainda! Fiquei tão irritado com isso que peguei um valiosíssimo vaso de uma autêntica imitação da dinastia Ming com uma begônia dentro e o arremessei contra a parede. Confesso que não conheço essa mocinha, mas fico aqui em casa com o olhar perdido imaginado ela arrastando por aí sua cabecinha de melão cheia de conhecimentos. Entrando em seu laboratório no porão de sua casa para provar cientificamente tudo; pois, nada, absolutamente nada de inexplicável ou metafísico pode entrar em sua cabecinha de melão superinteligente.

Ah, mas eu não vou perder meu tempo com ela. Pessoas que não admitem qualquer transcendência ou que não possuem capacidade de abstração são absolutamente chatas e sem graça. E eu, como já comentei, só dou minha preciosa atenção para pessoas inteligentes. Por isso, citarei um artigo de Mencken escrito em 1924:

“O argumento da Criação, um baluarte no passado da apologia cristã, ficou tão esburacado de balas que não surpreendeu a ninguém quando foi abandonado. De fato, quanto mais um teólogo tenta provar a sabedoria e a onipotência de Deus por suas obras, mais é destroçado pelos avanços da ciência que provam a incompetência e estupidez divina. O mundo não é muito bem dirigido; na verdade, é pessimamente administrado, e nem era preciso que um Huxley queimasse suas pestanas para demonstrar o obvio”. (O Livro dos Insultos de H. L. Mencken – tradução: Ruy Castro)

Nossa, o argumento da Criação foi abandonado!? A ciência então já explicou tudo, né!? Humm, sei. Quando leio ou escuto esse tipo de crítica, tenho a ligeira impressão que a pessoa que a faz não sabe o que é ciência e não conhece o processo histórico do qual ela faz parte, com seus inúmeros erros e modestos acertos. Só podemos avaliar as maravilhas da ciência, meus caros, depois de alguns séculos; pois, aí sim, poderemos ver o que de bom ela trouxe e suas conseqüências desastrosas como a poluição, por exemplo. De resto, não acredito que a ciência está com essa bola toda, não.

Bom, o que eu queria comentar aqui é o seguinte: “Pare de ter medo ou vergonha de acreditar em algo por fé, seu besta!” (falo isso para mim também). Nossa vida está baseada em fé. Não podemos sair de casa sem fé, aliás, não calçamos os chinelos antes de sair da cama sem fé. A vida é impossível sem crenças em algo que não podemos explicar, entender ou provar.

Acredito que essa crítica do Mencken ao argumento da Criação é, possivelmente, por que muitos cristãos rebaixam sua fé ao plano da ciência, ou seja, querem explicar o que não é para ser explicado. É uma questão de fé e pronto!

Vários cristãos que se dizem liberais acreditam que o Gênesis, por exemplo, que trata da criação do mundo, é um monte de fábulas. Pessoalmente, não acho idiota acreditar que tudo aquilo de fato aconteceu e nem deixar de acreditar. Pois tudo é uma questão de fé, acreditar na existência de Deus ou na Sua inexistência é uma questão de fé, já que tanto um como o outro não pode ser provado racionalmente. Mas acho extremamente idiota acreditar pela metade. A Bíblia toda está repleta de milagres e fazer uma seleção para crer em somente alguns é idiota. A Palavra de Deus testifica que o Criador é onipotente, onisciente e onipresente. E não podemos limitar Deus com nosso conhecimento, caso contrário, Deus deixaria de ser Deus! Vejo uma dessas pessoas que acreditam na Bíblia pela metade admirando a criação e dizendo: “Nossa como é maravilhoso o universo, a natureza, etc, etc, tudo feito por Deus... menos a girafa, porque aí também já é querer demais, né!?”

Ah, gostaria de dizer mais uma coisinha a respeito da crítica do Mencken. Ele fala de “(...) a incompetência e estupidez divina. O mundo não é muito bem dirigido; na verdade, é pessimamente administrado (...)”. Se esses críticos fossem inteligentes e sensatos o bastante para só criticar algo que têm conhecimento, que já estudaram um pouco a respeito, eles não falariam tantas besteiras. Meus caros, a própria Bíblia já fala das imperfeições do mundo e da criação em Gênesis 3:11-17:

“Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi. Disse o SENHOR Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi. Então, o SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teu marido, e ele te governará. E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida”.
(grifo meu)

Maldita é a terra por nossa causa e não o contrário. Sim, apesar de não podermos provar racionalmente tudo que Deus faz - e, repito, é de extremo mau gosto querer ou tentar provar - podemos perceber que a Bíblia não possui contradições. E, de vez em quando, esfregar isso na cara das pessoas.

Ah, como é bom ficar assim, sem ter que provar nada. Passo ótimas tardes sem provar nada, só acreditando... Enquanto assisto a Gilmore Girls, tomando suco de manga, fico acreditando e sorrio tranqüilamente confiante em Deus.
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