24 de abril de 2007

A insensatez da incredulidade


Imagem: Francisco de Goya
Por: Greg L. Bahnsen (trad. por Renata de Aquino Barão)

A declaração e os desafios centrais da apologética cristã se expressam na retórica pergunta de Paulo, “Não tornou Deus louca a sabedoria do mundo?” (I Co 1:20). Os críticos ataques que se dirigem contra a fé cristã no mundo do pensamento não podem se enfrentar com respostas pouco sistemáticas nem apelando às emoções. A longo prazo, o crente deve responder à investida do não crente atacando a posição do incrédulo em seus fundamentos. Deve desafiar as pressuposições do não crente, perguntando inclusive se é possível o conhecimento, dadas as noções e a perspectiva do não cristão. O cristão pode não estar construindo freqüentemente e de maneira defensiva respostas simples à interminável variedade de críticas apresentadas pela incredulidade; deve tomar a ofensiva e mostrar ao não crente que não tem um ponto inteligível onde se estabelecer, que não tem uma epistemologia consistente, e nenhuma justificação para o discurso, o sermão ou a argumentação significativa. A pseudo-sabedoria do mundo deve ser reduzida a insensatez – em cujo caso nenhuma das críticas do incrédulo tem força alguma.

Se vamos entender como responder ao insensato, se vamos ser capazes de demonstrar que Deus tornou louca à pseudo-sabedoria do mundo então devemos primeiro estudar a concepção bíblica do insensato e sua insensatez.

Pela perspectiva das Escrituras o insensato não é basicamente alguém de mente pequena ou um inculto iletrado; pode ser alguém bastante educado e sofisticado, segundo os cálculos sociais. No entanto, é um néscio porque abandonou a fonte da verdadeira sabedoria em Deus com o propósito de confiar em seus próprios poderes intelectuais (supostamente) auto-suficientes. É alguém que não pode ser ensinado (Pv 15:5); enquanto que o homem sábio presta atenção ao conselho que se lhe é oferecido, “o caminho do insensato aos seus próprios olhos lhe parece reto” (Pv 12:15). O néscio tem uma completa autoconfiança e pensa de si mesmo como alguém intelectualmente autônomo. “O que confia em seu próprio coração é néscio” (Pv 28:26). Um néscio pode não pensar que esteja equivocado (Pv 17:10). Ele julga as coisas de acordo com os seus próprios padrões pré-estabelecidos de verdade e justiça, e assim, a longo prazo, conclui que seus próprios pensamentos sempre terminam corretos. O néscio está certo de que pode confiar em sua própria autoridade racional e em seu exame intelectual. “O insensato se mostra insolente e confiado” (Pv 14:16), e, portanto profere sua própria opinião (Pv 29:11).

Na realidade, este homem autônomo é inconveniente, obstinado, grosseiro, insistente e tolo. Professa ser sábio em si mesmo, mas desde o momento que abre sua boca fica claro que é (no sentido bíblico) “um néscio” – sua única sabedoria melhor consistiria em ficar em silêncio (Pv 17:28). “O coração dos tolos proclama a estultícia” (Pv 12:23), e o néscio manifestará estultícia (Pv 13:16). Alimenta-se de nesciedades de maneira irreflexiva (Pv 15:14), logo a derramará (Pv 15:2) e retornará a ela como um cachorro torna ao seu vômito (Pv 26:11). De modo que está tão envolvido com sua nesciedade e tão dedicado a sua preservação que “é melhor uma ursa roubada dos filhos que o insensato com sua estultícia” (Pv 17:12). Ainda que pode ser que finja objetividade, “o tolo não tem prazer na sabedoria, mas só em que se manifeste aquilo que agrada o seu coração.” (Pv 18:2). Está comprometido com suas próprias pressuposições e deseja salvaguardar sua autonomia. De modo que não se apartará do mal (Pv 13:19), e assim, toda a sua fala culta não revela nada exceto seus lábios perversos e mentirosos (Pv 10:18; 19:1). Pode falar de maneira orgulhosa, mas “a boca do néscio é quebrantamento para si, e seus lábios são laços para sua alma” (Pv 18:7). Não suportará o juízo de Deus (Sl 5:5).

Como um homem se converte em tal néscio auto-enganado e supostamente autônomo? Um néscio despreza a sabedoria e a instrução, negando-se a iniciar seu processo pensamento com a devida reverência ao Senhor (Pv 1:7). Rejeita os mandamentos de Deus (Pv 10:8) e até se atreve a censurar ao Todo-Poderoso (Sl 74:22; Jó 1:22). “O pensamento do néscio é pecado” (Pv 24:9). O néscio não será governado pela palavra de Deus; é anárquico, assim como seu pensamento é anárquico (pecaminoso, I Jo 3:4). Ao rejeitar a lei ou a palavra de Deus, o néscio respeita sua própria palavra e lei em seu lugar (é dizer que é autônomo). As Escrituras descrevem à gente que não conhece a Deus, Seus caminhos e Seus juízos como néscios (Jr 4-5). O néscio vive em uma prática ignorância de Deus, pois em seu coração (do qual manam os assuntos cruciais da vida, Pv 4:23) o néscio diz que Deus não existe (Sl 14:1; Is 32:16). Vive e raciocina de uma maneira atéia – como se ele fosse seu próprio senhor. Em lugar de ser guiada de maneira espiritual, a visão do néscio está atada à terra (Pv 17:24). Serve a criatura (a autoridade de sua própria mente) em lugar de servir ao Criador (Rm 1:25).

O homem que ouve as palavras de Cristo e ainda assim edifica sua vida sobre o rejeito daquela revelação de um néscio (Mt 7:26), e o homem reprime a revelação geral de Deus no âmbito do criado também é descrito como um tolo (Rm 1:18). Fica bastante claro, então, que o néscio é um que não faz de Deus e Sua revelação o ponto de partida (a pressuposição) de seu pensamento. Os insensatos desprezam o sermão da cruz, se recusam a conhecer a Deus, e não podem receber a palavra de Deus (I Co 1-2). O homem que se auto-proclama autônomo, o não crente, não se submeterá à palavra de Deus nem edificará sua vida e pensamento nela. Portanto, a incredulidade e a ignorância da vontade de Deus produzirão a insensatez (I Co 15:36, Ef 5:17).

Como resultado, o néscio possui a concentração necessária para encontrar a sabedoria; de maneira vaidosa pensa que se pode obter ou dispor dela de maneira fácil (Pv 17:16, 24). Ao se gloriar no homem o pensamento do néscio se faz inútil e vergonhoso (I Co 3); seu coração se escurece, e sua mente se enche de vaidade (Rm 1:21). Devido a sua incredulidade e rebelião contra a palavra de Deus, o néscio não tem lábios cheios de ciência (Pv 14:7). De fato, deve-se que não escolhe reverenciar ao Senhor, o néscio aborrece o conhecimento (Pv 1:29). O não crente que critica a fé cristã é este tolo que descrevemos antes. Ao responder ao néscio o apologista cristão deve ter como meta demonstrar que a incredulidade é, a final de contas, destrutiva para todo o conhecimento. Deve mostrar ao néscio que sua autonomia é hostil ao conhecimento – que Deus enlouquece a sabedoria do mundo.

Tradução: Renata de Aquino Barão – renata.aquino@hotmail.com
Para o site: Monergismo – www.monergismo.com
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