19 de setembro de 2007

Hierarquia


Foto: autor desconhecido
Por: Carlos Galvão

Antes que eu suba neste banquinho e faça meu entusiasmado discurso, gostaria de pedir licença a você, caro leitor, para fazer uma ou outra observação. Comentei certo dia com meu amigo João Paulo (Jota) que detestava cortar as unhas do pé. Ele e mais outro amigo, Gotardo, acharam graça disso, este até recomendou: “Por que você não escreve isso no blog?”. Ah, claro, escrevo sim.

Bom, realmente detesto ficar encurvadinho cortando as unhas do pé e perder um pouco do meu precioso tempo, sendo que, mais cedo ou mais tarde elas voltarão a crescer. Um passatempo muito ignóbil esse, eu diria.

A verdade é que eu detesto perder meu tempo com certas futilidades, por causa do Sherlock Holmes. Sim, isso mesmo, o Sherlock Holmes. Não sei se você se lembra, prezado leitor, quando o admirável detetive se encontra com o dr. Watson pela primeira vez (livro: Um Estudo em Vermelho). Bom, neste encontro o sr. Holmes diz que nossa mente é como uma espécie de sótão no qual guardamos toda espécie de mobília. Então se a entulharmos de coisas desinteressantes, perderemos muito tempo para encontrar algo interessante mais tarde. Assim, meu passatempo favorito é mobiliar meu sótão com impressões agradáveis, lendo um bom livro, escutando uma boa música, conversando com pessoas interessantes, assistindo a bons filmes, passeando em lugares bonitos, etc, etc. Naturalmente, nem sempre consigo aproveitar meu tempo de forma inteiramente agradável, às vezes tenho que cortar a unha do pé, outras vezes tenho que ir ao banco, ou mesmo escutar um amigo falando sobre futebol. Enfim...

Bom, agora vou subir neste banquinho e... Espere um pouco, deu preguiça; então hoje, ao invés de subir no banquinho para fazer meu discurso, convido cada um de vocês, amáveis leitores, a subirem em um banquinho aí onde vocês estão e me deixarem aqui sentado nesta confortável poltrona enquanto falo. Obrigado por cooperarem.

Começo confessando que tenho muita facilidade, diria até uma extrema facilidade, em chegar a uma dessas festas chics de Hollywood, cheias de galãs-famosos-e-endinheirados e dizer com lágrimas de alegria nos olhos que nos somos todos iguais, sim, ninguém é melhor que ninguém, somos todos iguais, meus irmãos, meu povo. Em contrapartida, tenho uma profunda dificuldade em dizer essas mesmas palavras quando vou a uma festa do Clube dos Corcundas Zarolhos, por exemplo. Às vezes, até um cordial corcunda zarolho me abraça e diz: “Carlinhos, nós somos todos iguais, né?”. E eu respondo: “Ai, larga, larga, sai daqui seu feio!”.

Tenho pensado nisso: somos todos iguais ou diferentes? “Somos todos iguais perante Deus”, grita lá do fundo a professorinha-pedagoga da Escola Dominical. Ah, muito obrigado pela participação, senhora. Sim, claro, vamos pensar sobre isso. Acho que o problema esteja justamente nessa resposta. Não que ela seja errada em si mesma, mas ela sempre dá uma impressão artificial que somos todos iguais em absolutamente tudo, o que não é verdade.

Bom, antes de tudo, temos que estabelecer uma hierarquia. Sim, há uma hierarquia de valores, meu caro, e é nesta hierarquia, muitas vezes distorcida, que mora os nossos maiores erros (ou pelo menos os mais recorrentes). Ela é muito simples, porém fundamental:

1. Deus
2. Homens
3. Todas as outras coisas

Em primeiro lugar Deus, soberano, criador de todas as coisas.

Deuteronômio 6:5
“Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força”.

Mateus 22:37
“Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento”.

Em segundo lugar, os homens (repare, aqui não há distinção entre parentes, amigos, inimigos, desconhecidos, etc).

Lucas 10:27
“A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.

Gênesis 1:26
“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra”.

Gênesis 1:27
“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”.

Gênesis 9:6
“Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem”.

Está vendo? O homem é mais importante que esse seu conceito fajuto de bondade. Quando alguém diz que é contra a pena de morte, está colocando a própria bondade acima de Deus (por descumprir seu mandamento) e acima dos homens. Seu conceito de bondade tem que ficar no terceiro piso, meu caro.

Em terceiro, todas as outras coisas (aqui entra a distinção entre parentes, amigos, inimigos, desconhecidos, etc).

Parece simples, mas sempre distorcemos essa hierarquia. Se Deus está em primeiro lugar de importância, temos que nos esforçar para cumprir seus mandamentos, para honrá-Lo, para respeitá-Lo. Não digo que iremos conseguir de forma perfeita, porém temos viver como se isso fosse o mais importante, pois Deus está acima de todas as coisas, em primeiro lugar.

Repare, os homens estão na segunda posição, e todas as outras coisas na terceira.

Desta forma, um sujeito que possui uma Ferrari não é melhor nem pior que um sujeito que possui apenas, digamos, um olho de vidro. Hoje em dia, há um viés marxista influenciando nossos pensamentos, nos fazendo acreditar que tudo se resume a lutas de classe. Besteira! Considerar uma pessoa melhor ou pior por ela possuir certos bens é dar mais importância aos bens que aos seres humanos. Por isso, afirmo que fazer voto de pobreza é dar mais importância ao dinheiro que ao ser humano. Em si mesmo, o dinheiro não é nada, não faz ninguém ser melhor ou pior. Não somente o dinheiro, mas como disse acima, todas as outras coisas: beleza física, inteligência, força, bens materiais, etc, etc.

Sinceramente, acho melhor ter dinheiro que não ter. Esse pensamento não é dar importância ao dinheiro mais do que ele vale, pois estou comparando duas coisas do mesmo nível: o ter e o não ter dinheiro. Se você descer até ao terceiro piso dessa casa, verá uma série de coisas. Entre essas coisas espalhadas, poderá escolher o que acha mais importante para sua vida: dinheiro, conhecimento, beleza, etc, etc. Não é errado achar uma ou outra coisa boa e até importante para sua vida, o errado é considerá-las acima da hierarquia que ela realmente ocupa, ou seja, colocá-la acima do terceiro piso. Quando damos mais atenção a uma pessoa bem vestida que a um mendigo, estamos colocando o terceiro piso acima do segundo. Outro exemplo, quando não somos generosos com as pessoas também, pois se um ser humano é mais importante que todas as riquezas, ajudá-lo em qualquer eventualidade deveria ser um prazer e uma honra.

Mas, como eu afirmei logo no início, é extremante difícil viver de acordo com essa hierarquia, apesar dela ser tão simples. Gostaria de dizer mais uma coisa, as pessoas são iguais perante Deus, somos todos feitos a imagem e semelhança de Deus. Por isso, a nobreza está no ser humano e não no ouro e na prata. Porém, é interessante perceber que as escolhas que fazemos no terceiro piso moldam nosso caráter e são dignas de honra, desonra ou respeito, pelo menos.

Romanos 13:7
“Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra”.
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