1 de janeiro de 2008

As pequenas verdades de cada um.

Imagem: autor desconhecido
Por: Carlos Galvão

Antes de começar este post, permitam-me abrir as janelas para que os primeiros arzinhos de 2008 entrem. Ah, sim, mais um ano começa, como sempre cheio de expectativas maravilhosas... Ah, a doce esperança de um ano bom! Para vocês, naturalmente, pois eu faço parte da seleta e enigmática sociedade secreta dos melancólicos (me desculpem, mas eu sou muito enigmático e profundo. Sou sim, podem perguntar pra minha mãe).

Todo fim de ano, gosto de fazer algumas promessas para mim mesmo no sentido de tomar algumas atitudes. Este ano não fiz nenhuma, haja vista não ter cumprido as que fiz no final do ano retrasado, de 2006 para 2007. Havia resolutamente decidido que em 2007 eu haveria de sempre, sempre, em absolutamente todas as ocasiões, fazer uma entrada triunfal. Com um giro, uma cambalhota, uma corridinha seguida de uma parada brusca com uma sutil derrapadinha, etc, etc. Confesso que foi muito frustrante não ter feito nenhuma entrada triunfal em 2007 (fiquei um pouco mais amargo). Talvez eu comece em 2008 minhas entradas triunfais...

Mas vamos deixar as promessas de lado e nos concentrar em algo mais relevante (embora fazer uma entrada triunfal seja sempre muito importante para mim – ah, pobre, pobre Carlos, sempre carente da atenção dos outros). Não quero falar aqui das nossas idiossincrasias, porém das pequenas verdades que carregamos. Não digo mentiras ou quase verdades, mas pequenas verdades que, penso eu, são nada mais que ilusões de Grandes Verdades.

Por favor, permitam-me explicar. Nossas vidas estão permeadas de pequenas verdades. Sim, não vejo nada demais nisso. O problema, meus caros, é tampar os olhos para as Grandes Verdades, aquelas que subsistem independentes do tempo e das circunstâncias.

Minha tese é que nossas pequenas verdades têm que se filiar às Grandes e não o contrário.

Por exemplo, achamos que pecado é o ato mau que praticamos no mundo. Desta maneira, praticar atos bons no mundo é não pecar. Mas não é bem assim, pois os nossos atos no mundo são apenas um fim ou um desdobramento. Digo isso para apontar para uma Grande Verdade: todo homem é pecador (independentes dos atos).

Romanos 3:9-12
“(...) Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer”.

Não digo que praticar atos bons seja ruim ou não leve a uma vida de santidade. Não afirmei tal coisa. Perceba, o que afirmei é que praticar atos bons a fim de levar uma vida de santidade é uma pequena verdade, ou seja, ela só é verdade debaixo de uma Grande Verdade.

Não entendeu? Calma, calma. Vejamos, a ciência, por exemplo, é composta quase que totalmente por pequenas verdades. O que parece uma verdade última para nós hoje, amanhã pode ser mudada ou invalidada.

Leiamos uma passagem em que Jesus confronta os fariseus e nos presenteia com uma bela e sábia parábola.

Mateus 15:1-20
“Então, vieram de Jerusalém a Jesus alguns fariseus e escribas e perguntaram: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem. Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? Porque Deus ordenou: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. Mas vós dizeis: Se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: É oferta ao Senhor aquilo que poderias aproveitar de mim; esse jamais honrará a seu pai ou a sua mãe. E, assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição. Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. E, tendo convocado a multidão, lhes disse: Ouvi e entendei: não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem. Então, aproximando-se dele os discípulos, disseram: Sabes que os fariseus, ouvindo a tua palavra, se escandalizaram? Ele, porém, respondeu: Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada. Deixai-os; são cegos, guias de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco. Então, lhe disse Pedro: Explica-nos a parábola. Jesus, porém, disse: Também vós não entendeis ainda? Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o ventre e, depois, é lançado em lugar escuso? Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina”.

Para entender melhor essa passagem, é preciso saber que nesta época Jesus estava fazendo grandes milagres para multidões. Acabara de fazer a primeira multiplicação dos pães e dos peixes. Em Mateus 14 há uma passagem que ilustra bem isso:

Mateus 14:34-36
“Então, estando já no outro lado, chegaram a terra, em Genesaré. Reconhecendo-o os homens daquela terra, mandaram avisar a toda a circunvizinhança e trouxeram-lhe todos os enfermos; e lhe rogavam que ao menos pudessem tocar na orla da sua veste. E todos os que tocaram ficaram sãos”.

Reparem, nos primeiros versículos de Mateus 15:1-6 (que tomo a liberdade de reproduzir novamente), podemos notar que os fariseus, atraídos pelos grandes feitos de Jesus, resolveram ir ao encontro Dele para testá-Lo ou desautorizá-Lo. Lavar as mãos é apenas uma desculpa mesquinha que eles usaram.

Mateus 15:1-6
“Então, vieram de Jerusalém a Jesus alguns fariseus e escribas e perguntaram: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem. Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? Porque Deus ordenou: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte. Mas vós dizeis: Se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: É oferta ao Senhor aquilo que poderias aproveitar de mim; esse jamais honrará a seu pai ou a sua mãe. E, assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição”.

Aqui Jesus não nos mostra que o ato é bom ou ruim em si mesmo, mas que ele está filiado a uma Grande Verdade que é a Palavra de Deus. Todos os atos humanos são pequenas verdades, válidas somente para nós mesmos e que se desmancham no tempo e no espaço. Para que nossos atos sejam realmente bons, eles devem necessariamente expressar a bondade da Palavra de Deus que é perfeita e imutável. Cuidado, meu caros, com suas pequenas verdades!

Mais adiante, nesta passagem de Mateus, Jesus nos mostra através da parábola a origem do pecado. Repare que o pecado vem antes do ato material de pecar.

Mateus 15:10-11
“E, tendo convocado a multidão, lhes disse: Ouvi e entendei: não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem”.

Mateus 15:18-19
“Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias”.

Não é o ato material de pecar que nos fazem pecadores, mas nossa essência humana decaída. E aqui reproduzo talvez a passagem bíblica mais pesada de todas:

Gênesis 6:5-6
“Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então, se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração”.

Naturalmente que não é por sermos essencialmente pecadores que continuaremos a pecar inadvertidamente.

1 Samuel 15:22
“Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros”.

Aqui, essa passagem de Samuel nos mostra que nossa obediência à Palavra de Deus não deve ser algo que o sacrifício por cumpri-las é uma maneira de se redimir dos pecados, mas devemos obedecer por temor e consciência de que quem nos chama para uma vida de santidade é o próprio Deus. E a Lei em si mesma é uma benção:

Deuteronômio 4:6-8
“Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente. Pois que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o SENHOR, nosso Deus, todas as vezes que o invocamos? E que grande nação há que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu hoje vos proponho?”

A questão da obediência à Palavra de Deus se torna clara somente na vinda de Jesus, quando este nos dá sua verdadeira dimensão quando fala:

João 4:23
“Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores”.

Não é no ato, mas o que vem antes do ato, o que nasce no coração. Por isso, o farisaísmo é em sua essência anti-cristão. Por outro lado, se nosso coração é importante para Deus, o SENHOR está mais perto de nós que imaginamos. Isso é muito bom, ter o Deus Eterno ao nosso lado. Aqui chegamos ao verdadeiro Cristianismo: Deus se importa conosco. Os mandamentos de Jesus, amar a Deus e aos nossos próximos, ganham um sentido maior, mais profundo. Por isso, o apostolo Paulo escreve aos coríntios sobre a importância do amor:

1 Coríntios
13:2
“Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei”.
13:13
“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor”.

Aquele que não faz das pequenas verdades a base de sua vida, que não se deixa guiar por preceitos e tradições de homens, mas que procura as Grandes Verdades como fundamento, estes sim são sábios.

Lucas 6:39
“Propôs-lhes também uma parábola: Pode, porventura, um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no barranco?”.

Eu pessoalmente, mesmo que meus atos não sejam grandes coisas no fim das contas, possuo o bom hábito de colocar a Bíblia como uma Grande Verdade na minha vida.

Mateus 13:10-16
“Então, se aproximaram os discípulos e lhe perguntaram: Por que lhes falas por parábolas? Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido. Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías: Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os olhos e de nenhum modo percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados. Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque vêem; e os vossos ouvidos, porque ouvem”.

“Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque vêem; e os vossos ouvidos, porque ouvem”.

Escolha você também suas Grandes Verdades. 2008 é um bom ano para começar. Feliz 2008!

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